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11/10/2017
Este post é assinado por: Cláudio Roberto
TEXTO ÁUREO
TEXTO DE REFERÊNCIA
INTRODUÇÃO
Como estamos no mês de comemoração do aniversário da Reforma Protestante (31/10), e nossas lições abordam as principais doutrinas bíblicas, vale considerarmos aqui que o evento da Reforma resultou nas 5 Solas que definem os princípios fundamentais da Reforma Protestante:
Esta lição iremos estudar a Sola Gratia, ou seja, somente a graça de Deus pode salvar o homem do seu estado de pecado.
É verdade que há muito o que se falar da graça e uma única lição seria totalmente insuficiente para tal, por isso iremos nos restringir a proposta de cada tópico desta lição.
Já vimos (lição anterior) como o pecado degenerou o homem, lançando-o a um estado de corrupção total, no entanto, mesmo o homem nesta condição, o Criador lança mão de sua graça que pode ser conceituada como a mais extraordinária e maravilhosa manifestação do seu amor pela humanidade revelada em seu ponto máximo através do Seu Filho – Jesus.
Por iniciativa dEle e por intermédio dEle fomos salvos pelo favor que recebemos sem que houvesse qualquer merecimento de nossa parte: “Porque pela graça sois salvos, por meio da fé; e isso não vem de vós; é dom de Deus. Não vem das obras, para que ninguém se glorie” (Ef 2.8-9).
1 – COMPREENDENDO A GRAÇA DE DEUS
A graça de Deus em primeiro lugar é de Deus! Ele é o doador da graça – “O Senhor dará graça e glória…” (Sl 84.11) e jamais pode ser comparada a qualquer outra dádiva que possamos receber seja de quem for, pois a graça de Deus se revela no plano da subsistência (existimos e estamos vivos por ela) e salvação humana (somos salvos por ela), como veremos nesta lição.
A graça de Deus pode ser compreendida como a soma de alguns atributos morais de Deus, tais como: bondade ou benevolência, amor, misericórdia, fidelidade, justiça e verdade, comprometidos entre eles para beneficiar alguém que em si mesmo não tem nada de bom ou que possa ser digno de receber algum bem.
É através da Graça de Deus que o homem pervertido e corrompido pelo pecado, é alcançado mediante o reconhecimento de suas misérias e a necessidade do perdão divino.
Alcançado pela graça, ele agora passa a gozar de plena comunhão com Deus e assim participa dos manjares celestiais.
Se o trono de Deus é justiça e juízo (Sl 89.14) que executa o direito e sentencia o pecador, este mesmo trono agora, é também gracioso e nele encontramos a misericórdia e a graça de Deus em nosso favor:“Cheguemos, pois, com confiança ao trono da graça, para que possamos alcançar misericórdia e achar graça, a fim de sermos ajudados em tempo oportuno” (Hb 4.16).
1.1 – Uma definição bíblica a respeito da graça
A mentalidade humana está condicionada a receber alguma coisa mediante a meritocracia. Trabalhamos todo o mês para recebermos o nosso justo salário, pois o nosso esforço e dedicação nos fez merecê-lo; devemos nos esforçarmos e fazermos por onde alcançar uma promoção ou o reconhecimento do patrão; os pais presenteiam os filhos se estes forem obedientes e nada disso está em si mesmo errado, entretanto, o conceito de graça no âmbito teológico anula e contrapõe o entendimento que o homem natural possui sobre o tema, pois a graça revelada por Deus não exige méritos, virtudes, talento, aptidão, competência ou merecimento do homem. Deus simplesmente decide abençoá-lo sem exigir qualquer valor que o homem possa oferecer!
O conceito de graça é multiforme e sujeito a desdobramentos nas Escrituras.
Wycliffe, afirma que no AT a palavra ‘hen’, isto é, ‘favor’, é o favor imerecido de um superior a um subalterno. No caso de Deus e do homem, ‘hen’ é demonstrado por meio de bênçãos temporais, embora também o seja por meio de bênçãos espirituais e livramentos, tanto no sentido físico quanto no espiritual (Jr 31.2; Ex 33.19).
Outra palavra utilizada para expressar o conceito de graça é ‘hessed’, isto é, ‘benevolência’ que é a firme generosidade expressada entre as pessoas que estão relacionadas, e particularmente em alianças nas quais Deus entrou com seu povo e nas quais sua ‘hessed‘ foi firmemente garantida conforme podemos verificar em:
Wycliffe continua quando afirma que na literatura grega a palavra ‘charis’ para ‘graça’ tinha os seguintes significados (também transcritos na lição pelo Bispo Abner), são eles:
A graça tem caráter gratuito e Cristo é o presente de Deus ao homem pecador (Rm 6.14). Ele é a plenitude da expressão da graça revelada a humanidade.
Esta ação divina em benefício do homem perdido, mostra o Deus de toda a graça, benevolente com o transgressor e intencionado em exercer a Sua misericórdia para salvá-lo.
1.2 – A graça é inexplicável
O homem natural terá sérias dificuldades em compreender o funcionamento da graça de Deus atuando em favor da humanidade.
Ele poderá aceitar com facilidade que um homem que viveu de forma digna e praticando o bem, possa de alguma forma encontrar a Deus no final de sua vida ou morar no céu, mas jamais entenderá como outro homem sendo mal e tendo feito coisas erradas, pode também alcançar o mesmo céu mediante a graça de Deus.
Perceba que a concepção de meritocracia está embutida na mente humana e que ela contradiz a graça de Deus, que aprendemos ser exercida independentemente de qualquer bondade que possa existir no homem…
Considerando que o versículo acima sentencia o pecador a morte, compreendemos que este seria o merecimento de todos os homens, já que todos nós somos pecadores. No entanto, o apóstolo Paulo não conclui o versículo assim, antes, porém, o continua com a mais bela e maravilhosa afirmação de que o dom gratuito, isto é, a graça dada por Deus é a vida eterna por intermédio de Cristo.
Encontramos no versículo acima as três palavras chaves da nova aliança: Graça, Fé e Salvação (salvos).
Isto é, a fé em Jesus Cristo por meio da graça de Deus, conduz o homem a salvação!
A própria Reforma Protestante definiu alguns tipos de graça e entre elas a graça comum que foi esta, uma abordagem importante da teologia reformada que implica na afirmação de que Deus concede a todos os homens suas bênçãos comuns, independentemente se os mesmos observam ou não os Seus bons conselhos registrados em Sua Palavra.
A graça comum consiste em Deus dar ao homem por exemplo: as estações do ano, o dia, a noite, a chuva, o calor, a brisa, o ar e o vento, a própria vida, enfim, todas as coisas (Mt 5.44-45; At 14.16-17)!
Tal graça ainda pode ser manifesta na esfera intelectual (Jo 1.9; Rm 1.21; At 17.22-23); na esfera da criatividade (Gn 4.17-22); na esfera da sociedade (Gn 4.17,19.26; Rm 13.3-4); e na esfera religiosa (I Tm 2.2; Mt 7.22; Lc 6.35-36).
Além da graça comum, a Sua Palavra nos apresenta também a graça salvadora conforme encontramos em Tito 2.11: “Porque a graça de Deus se há manifestado, trazendo salvação a todos os homens”. Esta dádiva está à disposição de “todos os homens”, porém só desfruta da mesma, aqueles que creem em Deus e aceitam a Jesus Cristo como seu único e suficiente Salvador.
Por intermédio dessa graça, Deus salva, justifica e adota o pecador como filho: “Mas a todos quantos o receberam deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus: aos que creem no seu nome” (Jo 1.12).
O pastor Elinaldo Renovato de Lima, afirma em seu estudo sobre a manifestação da graça na salvação, que além da graça comum e da graça salvadora, a Escritura nos revela haver ainda a graça justificadora e regeneradora (Rm 3.21-26; II Co 5.17; Ef 2.19) e a graça santificadora (Rm 6.22; Hb 12.14)!
O homem é salvo e somente pode ser salvo por intermédio da graça de Deus. Ele não pode acrescentar nada a ela com o intuito de se tornar participante por méritos. A salvação é um benefício que está na posição vertical e na direção do alto para baixo (Mc 15.38), indicando ser proveniente de Deus.
Para o incrédulo ou para o homem secularizado, sempre será difícil compreender e aceitar que algo tão grandioso e de tão grande valor possa ser simplesmente ofertado ao homem pecador e que nada vale.
Ilustração – O pregador Dwight Lyman Moody ( 1837 – 1899 ), conta que ensinava sobre a maravilhosa graça de Jesus, num culto de ensino. E querendo que os crentes entendessem mais completamente a riqueza do Evangelho da graça, a certa altura, tirou de seu pulso o relógio de ouro maciço que lhe fora presenteado, e o estendeu diante da congregação, perguntando: “Quem quer este relógio para si… é de graça!” A congregação sorriu como que demonstrando que entendeu a ilustração. E um menino, assentado nos primeiros bancos, levantou-se de seu lugar e foi até o púlpito, pegando para si o relógio de ouro tão precioso. Todos riram da iniciativa do menino…. Ao final do culto, os pais desse menino vieram com ele até o pregador Moody, com a intenção de devolver o relógio, explicando que o menino se precipitou e que a ilustração fora muito bem entendida pela igreja. Mas, o pastor Moody respondeu que o relógio era dele. Pois foi o único da congregação que creu que a oferta era real, verdadeira e de graça!
E o menino, tão feliz, recebeu para si a dádiva ofertada pelo pastor Moody naquele culto, um relógio de ouro maciço! Inteiramente de graça!
1.3 – A graça comparada a Lei
A Lei foi entregue a Moisés no Monte Sinai, tendo todo o povo de Israel como testemunha daquele concerto (Ex 20). Ela revelava a vontade de Deus para um povo – Israel. A Lei possuía diversos preceitos que orientavam este povo e se dividiam em três aspectos conforme bem definiu o pastor presbiteriano Solano Portela:
http://www.solanoportela.net/palestras/tres_aspectos.htm
A Lei é boa e seus mandamentos agradáveis, no entanto, não houve um homem após a queda que pôde guardar perfeitamente os mandamentos da Lei de Deus, antes, diariamente os quebram, seja por pensamentos, desejos, palavras ou atitudes – “Na verdade, não há homem justo sobre a terra, que faça bem e nunca peque” (Ec 7.20).
A Lei, no entanto, segundo o apóstolo Paulo, serviu de aio, isto é, de guia para se chegar a Cristo (Gl 3.23-24) que é o fim da Lei “para justiça de todo aquele que crê” (Rm 10.4).
Segundo o pastor Batista Claude Duvall Cole, a melhor maneira de compreendermos a diferença entre a Lei e a Graça é contrastando-as pela própria Escritura:
1. Ela se diferencia da lei em sua origem e natureza
Enquanto o homem estiver debaixo da lei, ele está perdido. O único modo para o homem escapar do jugo da lei é pela fé em Jesus Cristo, “Porque o fim da lei é Cristo para justiça de todo aquele que nele crê” (Rm 10:4); “Porque o pecado não terá domínio sobre vós, pois não estais debaixo da lei, mas debaixo da graça” Rm 6:14.
2. A graça se contrasta com o pecado em seu domínio
3. A graça se contrasta com as obras na salvação dos pecadores
4. A graça se contrasta com dívida quanto a causa da salvação
Toplady disse bem: “O caminho ao céu não é uma estrada de pedágio, mas uma estrada livre, pela graça imerecida de Deus em Cristo Jesus. A graça nos encontra como pobres mendigos e nos deixa como devedores”.
http://palavraprudente.com.br/biblia/definicao-de-doutrina-volume-1/capitulo-13-a-graca-de-deus-i/
A graça planejou salvar o ser humano. A graça efetuou cada passo do plano.
“Como as montanhas elevam-se sobre os vales, assim a graça excede aos nossos mais altos pensamentos”.
2 – O MOVER DA GRAÇA NA VIDA CRISTÃ
A graça nas Escrituras se apresenta como:
Note que a graça se move livremente na vida do cristão operando nele bênçãos para melhor servir a Deus.
O texto acima diz respeito à fonte da graça – o favor gratuito é a boa vontade de Deus, em conduzir e operar a graça no coração dos que creem, salvando, ensinado a renunciar o mundo e suas concupiscências e prazeres, assim, optando por viver de forma direita e piedosa, esperando com alegria a grande expectativa que nos está proposta na ocasião da segunda vinda de Cristo, nosso Senhor e Salvador!
Tudo, fruto da graça de Deus!
2.1 – A graça nos ensina
Segundo o texto de Tito 2.11-13 citado acima e replicado abaixo, a graça de Deus é ainda para o cristão uma excelente pedagoga, isto é, ela nos ensina a como vivermos neste mundo e nos capacita a triunfar nele, através da concessão de virtudes suficientes para o exercício de uma vida cristã sadia e profícua.
Diferentemente da Lei que também tinha propósitos de instrução, mas que os alunos não podiam cumprir com tais aprendizados na integra; a graça não somente ensina, como também capacita o crente a colocar em prática aquilo que tem aprendido através dela.
Hernandes Dias Lopes faz importantes considerações sobre o texto de Tito 2.11-13, se referindo ao papel pedagógico da graça de Deus:
1. Em primeiro lugar, a graça nos educa para renegarmos o mal (Tt 2.12). “ensinando-nos que, renunciando à impiedade às concupiscências mundanas” (Tt 2.12a). A graça de Deus é pedagógica. Ela é educadora. Ela nos ensina a viver. Ser cristão é estar matriculado na escola da graça. O primeiro destaque de Paulo é que a graça nos educa mediante a forte disciplina de renegarmos a impiedade e as paixões mundanas.
Kelly diz que o caráter desse rompimento é ressaltado no original pela palavra grega traduzida “renegadas”, que é um particípio passado, indicando uma ação consumada de uma vez por todas. Renegar significa renunciar, abdicar, ser capaz de dizer não. Antes de falar positivamente acerca do que devemos ser e fazer, Paulo fala sobre o que devemos repudiar e rejeitar.
John Stott afirma que a graça de Deus nos disciplina a renunciar à nossa velha vida e a viver uma nova vida, a passar da impiedade para a piedade, do egoísmo ao autocontrole, dos caminhos desonestos a um tratamento justo com todos os demais.
2. Em segundo lugar a graça nos educa para praticarmos o bem (2.12b). “Vivamos, no presente século, sensata, justa e piedosamente” (Tt 2.12b). Depois de tratar do aspecto negativo, Paulo se volta para o positivo. Agora, ele fala sobre como a graça de Deus nos educa para praticarmos o bem. A salvação não é apenas uma mudança de situação, mas também de atitude. A pedagogia da graça nos educa em nosso relacionamento conosco, com o próximo e com Deus. A graça nos educa para vivermos relacionamentos certos dentro, fora e para cima.
Albert Barnes diz corretamente que a fé cristã nos ensina a cumprir nossos deveres, votos, alianças e contratos com fidelidade.
Warren Wiersbe afirma que a graça de Deus não apenas nos salva, mas também nos ensina como viver a vida cristã. Aqueles que usam a graça de Deus como desculpa para pecar jamais experimentaram seu poder salvador (Rm 6.1; Jd 4). A mesma graça de Deus que nos redime é também a graça que nos renova e nos capacita a obedecer à sua Palavra (Tt 2.14).
3. Em terceiro lugar, a graça nos educa para aguardarmos a manifestação da glória do nosso grande Deus e Salvador Cristo Jesus (Tt 2.13). “Aguardando a bendita esperança e a manifestação da glória do nosso grande Deus e Salvador Cristo Jesus”. John Stott diz que aquele que apareceu brevemente no cenário da História, e desapareceu, um dia vai reaparecer. Ele apareceu em graça; ele reaparecerá em glória.
Em suma, o cristão olha para trás e glorifica a Deus porque a graça o libertou da impiedade e das paixões mundanas. Ele olha para o presente e exalta a Deus porque tem uma correta relação consigo, com o próximo e com o próprio Deus. Ele olha para o futuro e se santifica porque vive na expectativa da manifestação do seu grande Deus e Salvador, Jesus Cristo.
A graça de Deus nos libertou de nossas mazelas do passado, restaurou nossa vida no presente e nos mantém na ponta dos pés com uma gloriosa expectativa em relação ao futuro, quando o nosso grande Deus e Salvador Jesus Cristo, há de voltar em glória e poder.
2.2 – A graça nos fortalece
A graça se apresenta também como um tônico espiritual para o cristão!
Ao final do seu ministério, o apóstolo Paulo recorre ao promissor pastor Timóteo, a fim de lhe conceder valiosos conselhos, entre eles a de que o jovem deveria se fortalecer por intermédio da graça que há em Cristo Jesus!
Não se trata de uma força física ou que pode ser adquirida pelos recursos meramente humanos. Tal força não pode ser produzida pelo homem, mas o apóstolo se refere a uma força espiritual advinda de Deus e que reside nEle. Somente através da graça dEle, nós a experimentamos.
O mesmo Paulo relata mais adiante da mesma carta a Timóteo, que o seu ministério chegava ao final e compara a sua jornada cristã a um combate – “Combati o bom combate, acabei a carreira, guardei a fé” (II Tm 4.7).
Devemos considerar que a vida cristã é um campo de batalha onde não há tréguas, pois, o nosso inimigo não desiste e tão pouco, nós também desistiremos (Dn 12.13).
Pesa contra nós o fato de não termos forças suficientes para enfrentar o nosso adversário. Para confrontá-lo, exige-se poder e tal poder não se concentra ou se consegue achá-lo no braço de carne, mas única e exclusivamente na graça encontrada em Cristo Jesus!
Devemos considerar que naquela época em que Paulo se dirigiu a Timóteo em sua segunda epístola, os tempos eram trabalhosos, pois havia uma perseguição cruel imposta pelo império romano contra os cristãos, uma perturbação herética invadia as igrejas através dos falsos mestres, além de uma debandada de cristãos que retornavam ao judaísmo.
Tudo conspirava contra o avanço do Evangelho e neste cenário tão difícil, Timóteo precisava de palavras alentadoras de alguém que já havia experimentado as maiores agruras no ministério. Timóteo precisava ser fortalecido na graça de Deus para resistir e dar continuidade ao trabalho do Senhor, no entanto, a graça não é encontrada em Paulo (seu tutor espiritual), tão pouco na própria igreja (que ele auxiliava), mas a graça acha-se em Cristo. É nEle que reside a fonte graciosa de poder onde ao crente é permitido ir e encher o seu vaso sempre que quiser, pois embora o vaso humano seja de barro, o poder que está nele, é Divino!
Esse fortalecimento por meio da graça divina, também está relacionado a diversas tribulações que o cristão atravessa neste mundo e que sem a força oriunda de Deus por meio desta graça, ele jamais poderá triunfar.
O pastor Jandiro A. Silva nos fala que a mensagem de Paulo a Timóteo ressoa ainda hoje fortemente, pois a graça não permite crentes fracos e desanimados (II Co 12.10), mas sim, fortes e destemidos para combater o mal (Ef 6.10-12).
2.3 – A graça capacita para o serviço
A graça de Deus também atua como agente capacitador para o serviço na obra de Deus.
Hernandes Dias Lopes, afirma que a força para a realização do ministério vem do próprio Senhor Jesus (II Tm 2.1). Jesus já havia deixado isso claro: “Sem mim, nada podeis fazer” (Jo 15.5). Paulo também já havia escrito: “A nossa suficiência vem de Deus” (II Co 3.5). A capacitação não vem do conhecimento intelectual nem da influência eclesiástica; vem da graça que está em Cristo Jesus. Os recursos para a realização do ministério não estão em nós mesmos; estão em Cristo. Dele emana todo o poder. Ele é a fonte de toda capacitação.
A graça de Deus na vida do cristão o reveste de responsabilidades no Reino de Deus. Deste modo, tudo o que se desenvolve neste Reino, é devido a graça de Deus. Todas as habilidades são provenientes desta graça, mesmo aquelas oriundas da graça comum, no caso de talentos naturais tais como: música, instrumento, artes, habilidades em geral.
Os próprios dons espirituais e ministeriais concedidos a igreja é uma forma de agraciá-la para o seu desenvolvimento, aperfeiçoamento e serviço na obra de Deus (I Co 12.1-11; Ef 4.11-12).
O maior vulto apostólico da igreja primitiva mantinha a sua humildade por um único motivo… Ele sabia que a fonte do seu trabalho para o Senhor era oriunda da graça de Deus.
Somos o que somos e fazemos o que fazemos pela graça de Deus e nada mais.
Considerando ainda que o serviço do apóstolo Paulo em prol da obra do Senhor implicou em grandes adversidades e sofrimentos, então compreendemos melhor como a graça de Deus lhe foi útil e suficiente no cumprimento de sua missão, pois a graça não somente nos impulsiona para o serviço, como também age em nossas vidas nos persuadindo a continuar mesmo diante dos infortúnios que a obra engloba.
Paulo nos adverte para que a graça de Deus em nós não seja inútil, ineficaz, improdutiva, desperdiçada, infecunda, mas que seja como o foi em sua própria vida… “e a sua graça para comigo não foi vã” (I Co 15.10).
3 – A GRAÇA DIVINA E DOUTRINAS ESTRANHAS
Falsos mestres, doutrinas distorcidas que resultam em heresias e até má intenções no uso da Escritura tem sido eventos que ocorrem na história da igreja desde os primórdios (Hb 13.9; Ef 4.14; Cl 2.4,8; I Jo 4.1).
Os apóstolos tiveram que lidar com o problema, a igreja dos séculos seguintes também e quanto a nós, nem preciso falar…
Os irmãos primitivos refutaram duas grandes heresias que emergiram no interior da igreja que contrariavam a graça de Deus.
Vejamos…
3.1 – Antinomismo
Entendendo o significado do termo: Antinomismo é uma palavra composta por outros dois termos gregos: ‘anti’ cujo significado é ‘contra’ e ‘nomos’ cujo significado é ‘lei’, logo a composição do termo seria: ‘contra a lei’.
O pastor Claudionor de Andrade assim define: “Literalmente significa contra a lei. Doutrina que assevera não haver mais necessidade de se pregar nem de se observar as leis morais do Antigo Testamento. Calibrando esta assertiva, alegam os antinomistas que, salvos pela fé em Cristo Jesus, já estamos livres da tutela de Moisés. Ignoram, porém, serem as ordenanças morais do Antigo Testamento pertencentes ao elenco do direito natural que o Criador incrustara na alma de Adão.
Essa filosofia de vida atacou a igreja apostólica!
Os antinomistas afirmam que não existe princípio moral objetivo que possa julgar se uma questão é certa ou errada. A questão precisa ser decidida com base em princípios subjetivos, pessoais e usando a sensatez e nunca um princípio moral, muito menos algo que seja absoluto (Palavra de Deus).
O apostolo Paulo refuta essa filosofia em Romanos 6.
O pastor Claudionor de Andrade acrescenta a nós sobre o assunto que Paulo percebeu que a sua argumentação a respeito da graça poderia gerar um mal-entendido. Por isso, tratou logo de esclarecer o seu pensamento a respeito do assunto. Usando o método de diatribe, ele dialoga com um interlocutor imaginário, procurando explicar de forma clara o seu argumento. Paulo já havia dito que onde o pecado abundou, superabundou a graça (Rm 5.20). Tal argumento seria uma afirmação ao estilo dos antinomistas, pois estes acreditavam que podemos viver sem regras ou princípios morais.
No antinomismo não há normas. Os que erroneamente aceitavam tal pensamento acreditavam que quanto mais pecarmos mais graça receberemos. Em outras palavras, a graça não impõe limite algum. Antevendo esse entendimento equivocado, o apóstolo pergunta: “Que diremos, pois? Permaneceremos no pecado, para que a graça seja mais abundante?” (Rm 6.1). A resposta é não! A graça não deve servir de desculpa para o pecado.
Infelizmente, o antinomismo tem ganhado força em nossa sociedade, passando a ser socialmente aceito até mesmo dentro das igrejas evangélicas. Esta é uma doutrina venenosa, que erroneamente faz com que a graça de Deus pareça validar todo tipo de comportamento contrário à Palavra de Deus. Em geral, tal pensamento vem “vestido” de uma roupagem espiritual, porém o antinomista costuma ser relativista quando se utiliza da expressão “não tem nada a ver”.
Há muitos seminários teológicos que abraçaram a teologia liberal que tem em seus tentáculos, sutis nuances do antinomismo. Os teólogos oriundos dessas escolas, refletem em nossos púlpitos os seus ensinamentos, práticas, interpretações textuais deturpadas e estilo de vida perigoso, pois vivem uma liberdade corrompida em nome da suposta graça que lá nos bancos acadêmicos aprenderam.
Para estes, liberdade se tornou libertinagem e para os tais a resposta se encontra em todo o texto de Romanos 6!
3.2 – Legalismo
Tão venoso e mortal quanto o antinomismo e do outro lado da extremidade, encontra-se o legalismo.
O legalismo é antagônico ao antinomismo, pois enquanto o primeiro declara a liberdade sem regras, isto é, SEM LEI, o segundo enfatizam o cumprimento da lei como meio de complementar a justificação e deste modo anular a graça oriunda de Deus como instrumento suficiente para a nossa salvação.
Recorro uma vez mais aquilo que diz o pastor Claudionor de Andrade sobre o assunto: Em Romanos 6.15, o apóstolo Paulo tem em mente o judeu legalista, quando pergunta: “Pois quê? Pecaremos porque não estamos debaixo da lei, mas debaixo da graça? De modo nenhum!”.
A doutrina da justificação pela fé, independentemente das obras da lei, levaria o legalista a argumentar que Paulo estaria ensinado que, em virtude de não estarmos mais debaixo da lei, então não há mais obrigação alguma com o viver santo. Nesse caso, não haveria mais nenhuma barreira de contenção contra o pecado.
Na mente do legalista, somente a lei de Moisés era o instrumento adequado para agradar a Deus. Isso justifica as dezenas, e às vezes, centenas de preceitos que o judaísmo associou com o Decálogo. Os legalistas criaram como desdobramento da lei 613 preceitos. A teologia de Paulo irá ensinar que mesmo não estando mais debaixo da lei, o cristão não ficou sem parâmetros espirituais. Pelo contrário, agora que ele tem a vida de Jesus Cristo dentro de si, está capacitado a agradar a Deus, mesmo sem se submeter à letra da Lei de Moisés.
Boas obras, por melhores e mais virtuosas que sejam não podem ninguém salvar como alegam por exemplo os espíritas.
Bispo Abner cita precioso exemplo do caso de Cornélio que era um homem piedoso, temente a Deus, que dava esmolas, orava, e jejuava, no entanto, vivia as margens da salvação até se encontrar com a verdade de Cristo exposta por Pedro (At 10).
Todas as suas boas práticas representam ou simbolizam as regras incensuráveis, irrepreensíveis que o tornavam um homem honrado, porém a salvação é dom de Deus e se dá por intermédio da sua graça “Porque pela graça sois salvos, por meio da fé; e isso não vem de vós; é dom de Deus” (Ef 2.8) e todos aqueles que não tem a sua fé centrada nesta verdade “da graça tendes caído” (Gl 5.4).
3.3 – A falta do uso da disciplina na igreja
Difícil acreditar que o tema deste tópico há tempos atrás seria abordado com certa tranquilidade na igreja, entretanto, hoje o tema tornou-se controverso e polêmico.
Ao contrário do que possa parecer, não existe incompatibilidade entre a disciplina e a graça de Deus.
A disciplina, quando bem compreendida, torna-se na verdade um instrumento da graça de Deus e está a serviço do aperfeiçoamento dos santos.
Sobre o texto acima, a disciplina:
Infelizmente quanto a disciplina, há uns que a aplicam como legalistas não observando a lei do amor e da graça de Deus para tal exercício, outros a ignoram totalmente afirmando que a sociedade atual não comporta mais esse tipo de ajuste corretivo e desta forma se fazem antinomistas – liberais.
De maneira sorrateira, a abolição da disciplina adentrou os ministérios e o irmão Adiel Teófilo, do blog Defesa do Evangelho, evidencia alguns supostos fatores que podem ter levado algumas denominações e igrejas a abandonarem o uso da disciplina que anteriormente era utilizado:
Acrescento a lista o receio que as lideranças eclesiásticas possuem das leis civis onde o disciplinado pode acioná-la em sua defesa alegando dano moral e desta forma a igreja ter que indenizá-lo.
No entanto, as lideranças estão se intimidando diante de uma mentira, pois a verdade não é bem assim…
Não é toda e qualquer aplicação de disciplina que indiscriminadamente caracteriza ofensa moral. Até porque existem outras formas de imposição de reprimenda aceitas pela sociedade, e nem por isso ferem a honra ou a dignidade das pessoas.
O fato é que a igreja tem absorvido como uma esponja absorve a água os conceitos deste mundo e assim, ajustado a igreja.
Observem por exemplo a lei da palmada, onde implica que os pais não podem corrigir os seus filhos com a “vara” (Pv 13.24). A sociedade moderna não tolera a disciplina e tal ideologia achou assento confortável nas igrejas. Não atoa presenciamos em nossa comunidade cristã, aqueles que se santificam e fazem o máximo para servirem a Deus e outros que vivem relaxadamente suas vidas, vez ou outra saem do convívio e da vida da igreja, passeiam pelo mundo e retornam cantando nos grupos de louvores, ensinando, pregando, enfim, como se nunca tivesse afastado do aprisco.
A liderança responsável por assim fazer em nome do suposto amor, fere a graça disciplinadora de Deus e contradiz a Escritura, pois a disciplina não é falta de amor, ao contrário, é prova de que ele existe – “porque o Senhor corrige o que ama e açoita a qualquer que recebe por filho” (Hb 12.6) e “Eu repreendo e castigo a todos quantos amo; sê, pois, zeloso e arrepende-te” (Ap 3.19). Ou você pensa que amando do seu jeito é melhor do que do jeito dEle?
O ensino da disciplina está contido em toda a Escritura, mas em especial nos Evangelhos e nas epístolas…
Perceba o quanto a igreja tem absorvido idéias e ideais, princípios e valores seculares, mundanos e os cristãos, como um sapinho que é posto em panela fervente com fogo baixo é cozido sem perceber…
CONCLUSÃO
William Hendriksen disse: “A graça de Deus é seu favor ativo que outorga o maior de todos os dons a quem merece o maior de todos os castigos”.
Jesus é a expressão máxima do amor de Deus que também é a expressão máxima da Sua graça e ela, isto é, a graça por meio de Cristo, atrai o homem a Deus – “E eu, quando for levantado da terra, todos atrairei a mim” (Jo 12.32).
No calvário reside a graça concedida a todos os homens revelando em Cristo o pagamento do mais alto preço que alguém poderia saldar pelo homem ainda pecador (Rm 5.8).
Encerro com a ilustração abaixo:
“O homem por detrás do balcão olhava a rua de forma distraída. Uma garotinha se aproximou da loja e amassou o narizinho contra o vidro da vitrine. Os olhos da cor do céu, brilhavam quando viu um determinado objeto. Entrou na loja e pediu para ver o colar de turquesa azul.
– E para minha irmã. Pode fazer um pacote bem bonito? – diz ela. O dono da loja olhou desconfiado para a garotinha e lhe perguntou:
– Quanto de dinheiro você tem? Sem hesitar, ela tirou do bolso da saia um lenço todo amarradinho e foi desfazendo os nós. Colocou-o sobre o balcão e feliz, disse:
– Isso dá? Eram apenas algumas moedas que ela exibia orgulhosa.
– Sabe, quero dar este presente para minha irmã mais velha. Desde que morreu nossa mãe ela cuida da gente e não tem tempo para ela. É aniversário dela e tenho certeza que ficará feliz com o colar que e da cor de seus olhos. O homem foi para o interior da loja, colocou o colar em um estojo, embrulhou com um vistoso papel vermelho e fez um laço caprichado com uma fita verde.
– Tome!, disse para a garota. Leve com cuidado. Ela saiu feliz saltitando pela rua abaixo. Ainda não acabara o dia quando uma linda jovem de cabelos loiros e maravilhosos olhos azuis adentrou a loja. Colocou sobre o balcão o já conhecido embrulho desfeito e indagou:
– Este colar foi comprado aqui?
– Sim senhora.
– E quanto custou?
– Ah!, falou o dono da loja. O preço de qualquer produto da minha loja e sempre um assunto confidencial entre o vendedor e o cliente. A moça continuou: – Mas minha irmã tinha somente algumas moedas! O colar é verdadeiro, não é? Ela não teria dinheiro para pagá-lo!”
O homem tomou o estojo, refez o embrulho com extremo carinho, colocou a fita e o devolveu a jovem.
– Ela pagou o preço mais alto que qualquer pessoa pode pagar. ELA DEU TUDO O QUE TINHA.
O silêncio encheu a pequena loja e duas lágrimas rolaram pela face emocionada da jovem enquanto suas mãos tomavam o pequeno embrulho.”
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
Bíblia Eletrônica Olive Tree – Versão Revista e Corrigida / Revista e Atualizada / NVI;
Dicionário da língua portuguesa;
Dicionário Bíblico Wycliffe – Charles F. Pfeiffer, Howard F. Vos, John Rea – CPAD;
Revista EBD – 3º Trimestre 2015 – Lição 13 – Elinaldo Renovato de Lima – CPAD;
Tito e Filemon – Comentário Expositivo – Hernandes Dias Lopes – Editora Hagnos;
I e II Timóteo e Tito – Série Cultura Bíblica – J.N.D. Kelly – Editora Vida Nova;
II Timóteo – Comentário Expositivo – Hernandes Dias Lopes – Editora Hagnos;
Revista EBD – 2º Trimestre 2016 – Lição 5 – Claudionor de Andrade – CPAD;
Site da internet mencionado quando citado no texto;
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Por Cláudio Roberto
Postado por ebd-comentada
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